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25 de dezembro de 2020

Revisões...

LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que hão de me lembrar de modo menos nítido

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

(David Mourão-Ferreira)

2 comentários:

Clara disse...



Para David Mourão-Ferreira esse Natal já chegou, estava no fim o ano de 1996.

Há muitas palavras de que não gosto.
Morte e seus "derivados" estão em lugares cimeiros. Póstumo está relacionado com ela... por isso é uma das palavras banidas do meu dicionário.

OS SONS E OS SENTIDOS disse...

Lendo o seu comentário, relembro que eu próprio tenho uma particular dificuldade em lidar com essa inevitabilidade da vida.
Assim sendo, como explico a postagem em apreço? Pergunta legitima.
Nada é por acaso...
Vivo neste momento, o drama dos últimos dias da minha Kuska.
A Kuska é uma cachorra que encontrei numa chuvosa tarde de inverno num baldio em Fátima e a acolhi vai para 7 anos.
Está a ser difícil, muito difícil...